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Testes de Comportamento Canino para cães PET Parte 6: Opiniões que ninguém pediu e reflexões alá filósofo de bar

  • Foto do escritor: Haroldo Fala
    Haroldo Fala
  • 26 de jun. de 2024
  • 30 min de leitura

Atualizado: 30 de set. de 2024

Uma comparação mais a fundo


Muito bem, muito bom, agora que temos cada prova destrinchada nos seus itens de teste e tabelas que comparam cada prova em diferentes quesitos, vamos às conclusões e comentários que ninguém pediu.


Ao meu ver nenhuma dessas provas é perfeita. Se pudéssemos pegar um pouquinho de cada uma, e juntar em uma quarta prova, com o melhor de cada uma, pessoalmente acho que chegaríamos em um teste que de fato avalia tudo aquilo que considero habilidades indispensáveis para cães pet.


Mas, nossa proposta aqui não é fazer um exercício de imaginação e criar uma prova nova, mas sim olhar para essas três provas que já existem, como elas são de fato. 

Então vamos lá!


Sobre os pré requisitos de cada uma, acredito que a exigência de vacinação em dia, como pede o TCS é algo muito importante. As outras duas provas “sugerem” ou “recomendam” que os cães sejam vacinados, mas para a segurança de todos os envolvidos nas avaliações, seja o avaliador, os voluntários e assistentes, o próprio dono e cão, assim como os outros cachorros envolvidos no dia de teste; Além de, é claro, de ser algo indispensável para cobrar posse responsável. O ideal ao meu ver é que realmente haja uma exigência de prova de vacinação: pelo menos as mais básicas, como a anti rábica e v8 ou v10 no mínimo. 


Seria muito difícil fiscalizar se o cão está livre de vermes e parasitas, mas esse é um dos motivos pelo qual o SPOT e o CGC desqualifica cães que eliminam fezes ou urina durante a prova: risco de contaminação. Além, é claro, de ser subentendido que o cão educado só vai ao banheiro em locais apropriados - seja do lado de fora ou num espaço dedicado em casa - nunca em um espaço compartilhado e definitivamente nunca do lado de dentro em um clube de treinos, ou local de evento onde costumam ser feitas essas provas.


Apesar disso, não posso dizer que os pré-requisitos do TCS são os que eu considero os melhores dentre as três provas: afinal para participar o cão de raça precisa ter pedigree (emitido pela CBKC). Uma amiga precisou tirar um segundo pedigree do cão para participar da prova, pois não aceitaram o pedigree tirado em outro kennel clube.


Agora, a esmagadora maioria das pessoas no país tem cães sem raça definida, e acho a exigência de microchip uma regra muito boa. E fico feliz em ver uma certificação que seja inclusiva de cães vira-lata. Acredito que esse ponto deveria ser uma das principais - se não A principal - característica que a CBKC deveria usar para divulgar esse teste na minha humilde opinião.


A inclusão de uma idade mínima para participação acho desnecessárias caso já exista a exigência das vacinas mínimas, afinal este teste não é como agility por exemplo, onde a realização dos exercícios pode causar mal ao animal se praticados antes que as juntas estejam completamente formadas. Me pergunto qual foi o critério da CBKC para escolher a idade de 15 meses. (Se alguém souber me conta!)


Apenas o SPOT menciona a idade do condutor, e acho ótimo pois incentiva que adolescentes e condutores junior treinem seus cães e aprendam a conduzi-los com o objetivo de passar nesta prova! No Regulamento consta que qualquer criança capaz de completar os exercícios da prova sem o auxílio de um adulto pode acompanhar seu cão na hora da avaliação, e acho prudente fazer o corte de idade citando capacidade de conduzir o cão sem auxílio, e não um número!


No quesito de fazer com que a prova seja acessível, e seja uma ferramenta que busca padronizar o comportamento pet, mesmo sem a regulamentação da profissão de adestrador, o SPOT e o CGC são mais eficientes ao meu ver. Oferecer cursos de formação de avaliadores, faz com que muitos adestradores autônomos e escolas de adestramento possam oferecer o serviço, e consequentemente, muito mais pessoas têm acesso à prova: basta encontrar um avaliador próximo a você! 


A prova poder ser feita em qualquer lugar que comporte os exercícios também contribui para acessibilidade do teste: em contrapartida, o TCS só pode ser feito em locais previamente designados pela CNA, em eventos homologados pelo Kennel Clube, com um árbitro oficial. Isso faz com que seja infinitamente mais difícil encontrar uma data, um avaliador e um local acessível ao público em geral.


No caso do SPOT e CGC, treinadores de todas as áreas do país podem divulgar a existência da prova, e usar seus critérios como norte para suas aulas oferecidas como preparação. As provas da CBKC tem muito mais chance de chegar apenas naquelas pessoas que já estão procurando algo do tipo, enquanto as outras duas provas muito mais facilmente chegam ao conhecimento do público em geral: Quase todo Adestrador com escola ou autônomo aqui nos Estados Unidos tem um curso de preparação para o CGC pra vender aos alunos de consultoria individual, ou alunos de obediência básica/ aulas de socialização de filhotes.


Isso não só, faz com que seja mais fácil gerar interesse na participação da prova, mas dissemina o conhecimento do comportamento padrão que se busca com essas provas. 


Quanto a falhas automáticas, na minha opinião as 3 provas deixam a desejar: pois citam “comportamento agressivo” sem fazer uma descrição objetiva dos comportamentos que caracterizariam agressividade. Isso é importante não só para os avaliadores, - que devem entender de linguagem canina- mas devem poder apontar comportamentos específicos aos avaliados, mas para as pessoas que têm intenção de participar do teste e instituições que venham a checar os critérios das provas.


Se um estabelecimento tem intenção de implementar a regra de permitir acesso a cães com o tal certificado, seria muito mais informativo a eles, se pudessem ver descrito objetivamente o que caracteriza um cão agressivo. Quantas vezes você já não viu um cão reagir agressivamente a outro, só para ouvir da pessoa segurando a guia que “ele só quer falar oi”? As pessoas têm muita dificuldade de identificar o que os cães estão de fato comunicando, e ter essas descrições detalhadas nos critérios de avaliação, seria uma ótima oportunidade de educar o público, e incentivar mais lugares a usar estas provas como exigência para acesso: podendo ver o tipo de comportamento não aceito para aprovação, daria mais confiança a leigos de que o teste de fato leva em consideração o conforto alheio, e não está avaliando o cachorro de um ponto de vista de “mãe de pet”.


Pode parecer bobo, mas quando mencionei os testes para meu pai por exemplo, que não é muito fã de cachorro, ele comentou que mesmo com certificado ele não ia querer um cachorro perto dele em um restaurante porque “gente que gosta de cachorro acha que dar comida pro cachorro no colo quase em cima da mesa é ok”. 


Na visão dele, o certificado é feito e avaliado por “gente que gosta de cachorro” e algumas pessoas já criaram para ele uma imagem de que gostar de cachorro é dar permissão para que se comportem como bem entender, sem a menor consideração pela sociedade como um todo: que inclui pessoas que não gostam de cães, pessoas com fobias, alergias, etc. 


A primeira impressão dele, sem explicação sobre os certificados, é que era algo como cartinha de dia das mães que creche de cachorro faz: uma coisa inútil que quem tem cachorro gosta, mas que não necessariamente significa nada sobre a educação do cachorro.


Essa perspectiva pra mim foi muito surpreendente, mas me fez perceber o quão importante é, que o regulamento seja claro e exigente, além de acessível. E claro, o quão importante é, que os cães aprovados sejam exemplares em acordo com os critérios de avaliação delineados. Sem isso, as certificações não valem nada!


Não adianta dizer por exemplo que “cães nervosos” serão desclassificados, porque a Dona Maria que achou legal a ideia do teste e foi fazer, não tem ideia de como se parece um cão nervoso. Para ela a Belinha tá tranquila e de boa, porque ela nunca aprendeu sobre sinais de medo, estresse e ansiedade, e como isso se manifesta no cão por meio de paralisia, rabo baixo, orelhas para trás, e arfar exagerado: para ela o cachorro está sorrindo enquanto está parado. Vê como sem uma descrição objetiva, pode ser confuso para Dona Maria entender porque ela poderia ser desclassificada? 


Enfim, saí numa pequena tangente aqui…. vamos voltar hahaha


Quanto a possibilidade de adaptar os exercícios para acomodar pessoas ou cães com deficiências, tanto o CGC quanto o SPOT permitem modificações, garantidas no regulamento e detalhadas no Manual do Avaliador, com tanto que o que está sendo testado não mude, por exemplo: se uma pessoa está em uma cadeira de rodas, pode ser que não seja possível seguir o percurso pré determinado para o SPOT, mas o avaliador tem autoridade para modificar esse percurso para acomodar a dificuldade de locomoção desta pessoa. O cão ainda estará sendo testado na sua capacidade de andar com a guia frouxa e seguir mudanças de direção. Um cão cego-surdo pode ter permissão de usar uma coleira de vibração ou guia no exercício de “vem”. Ou ainda, uma pessoa que não tem um braço, pode ser permitida a usar uma guia retrátil se for mais fácil para ela fazer o manejo de seu cão com esse equipamento. Acho um tanto retrógrado da parte do TCS não prever possibilidade de adaptação dos exercícios. A pessoa com quem falei para tirar dúvidas disse que os exercícios são sempre iguais e não podem ser modificados. Espero que isso seja reconsiderado no futuro.


Voltando um pouco ao assunto de acessibilidade, CGC e SPOT tendem a ser cobrados a preço de custo dos kits de avaliação, justamente porque, com a possibilidade de se formar avaliador, é muito comum que adestradores certificados para tal, ofereçam cursos de preparação, ou aulas individuais de treino, que podem incluir o custo de materiais, e abre possibilidade para baratear a prova mesmo para aqueles que não fizeram a preparação com o avaliador. Pessoas que conheço que fizeram o TCS, pagaram R$200,00 que acho um preço um pouco alto demais. 


É comum certificações de comportamento, truques e outras habilidades serão por volta dos 35 ou 50 (dólares ou libras) em outros países. O preço alto só contribui para que a prova seja, no fim, para poucos. Foi constatado para mim que o preço depende de quem oferece a prova, mas não tive acesso a informação sobre qual seria o custo básico para um árbitro ou clube oferecer o teste, então vamos torcer para que outros locais ofereçam preços melhores.


Na questão do modo de avaliação, com toda certeza, pra mim, o SPOT fica em último lugar dentre as 3 provas. A proposta de existirem “notas” para cada exercício e haver uma distinção no título que indica o quão bem o cão foi na prova é interessante, mas na minha opinião, os critérios para as notas “super” e “bom” são baixíssimos, e cães que passam com nota “bom” em tudo, eu nunca consideraria um cão bem treinado e educado. 


Na Estação 7 do SPOT por exemplo, onde a intenção exercício e demonstrar que o cão aceita a aproximação de estranhos e se mantém educado quando abordado, que envolve uma pessoa se aproximar do cão e seu dono e pedir para acariciar o cão, veja qual o critério que determina a nota “bom”: “Cachorro salta ou tenta pular em direção a, ou no estranho e o cumprimenta de uma maneira excessivamente excitada. O cachorro não fica em qualquer posição específica para ser acariciado e não fica ao lado do dono. O cão é tímido e são necessárias três tentativas para tocá-lo. Na terceira tentativa o cão permite o toque sem ressentimento ou medo e o dono é capaz de tranquilizar o cão para completar o exercício.”


Gente?? Como é que pular na pessoa que se aproxima, e demonstrar medo ou receio a ponto de precisar de 3 tentativas de toque pode ser considerado como nota “bom”??? Na minha opinião, se um cachorro é incapaz de não pular em uma pessoa que se aproxima, ele não deveria ter certificado de bom comportamento em público, simples assim.


Tenho discordância nesse quesito em todos os exercícios propostos do SPOT, onde acho o critério para passar no teste extremamente medíocre - se não negligente - para que se obtenha um certificado que supostamente comprova “bom comportamento”.


Enfim. Poderia me indignar aqui com cada um dos itens de teste dessa prova, mas vamos para o próximo tópico: o que você ganha ao passar? Eu adoro uma fitinha hahaha e acho um incentivo bobo, mas poderoso para que pessoas que inicialmente não teriam interesse em participar tenham um prêmio que chama atenção e da vontade de passar. O certificado impresso também é legal para arquivar ou por na parede, e acho que deveria estar incluso no preço de avaliação! No caso, o CGC sempre dá a fita em caso de aprovação, no próprio dia da prova, podendo pedir o certificado depois. No TCS fui informada que o certificado já vem junto com o valor pago para fazer a prova, e não tem fita. Pro SPOT, os dois são possibilidades adicionais, por um preço além daquele da avaliação.


Há quem diga que é besteira fitinha de conquista, e que isso não é uma boa razão para tirar um certificado. E para isso eu digo: foda-se. Pra mim, qualquer coisa que incentive uma pessoa a treinar seu cachorro o bastante para passar é válido. O que eu quero são pessoas motivadas a treinar seus cães: e se for preciso uma fitinha, ela é bem-vinda. É claro que se os critérios forem altos, melhor ainda, pois a pessoa que fizer um trabalho meia boca “só pra ter a fitinha” não vai passar… por isso prefiro o modo de avaliação do TCS e CGC: ou passa no exercício ou não passa, em contraste com os critérios medíocres de aprovação do SPOT.


E claro que dessa maneira, um cão em comando heel de competição, e um cão que simplesmente anda ao lado de boa com atenção no dono só quando muda de direção, vão passar com o mesmo “aprovado” no mesmo exercício. Mas ter que passar uma média de cães onde um extremo é um cão de competição, na minha experiência, faz com que os avaliadores puxem a média para cima, naturalmente.


Todo avaliador deveria manter em mente o objetivo maior dessas certificações: aumentar o padrão de comportamento esperado de cães pet, e com isso elevar a educação média dos cães do país. É isso que os critérios de cada prova tenta estabelecer - apesar do SPOT, ao meu ver não fazer isso bem - e é o que o adestrador ou árbitro deve sempre buscar dos cães sendo avaliados: este cão é uma boa representação do que o teste espera de um pet educado? Ele é um bom EXEMPLO do que deveria ser visto como um pet educado?


Quanto a uso de recompensas e correções, um assunto nada polêmico /sarcasmo/ diria que o TCS se aproxima mais do que eu acredito ser um incentivo de treino contínuo para a população: ele permite uso tanto de brinquedos, quanto de carinho e comida para premiar o cão depois de cada exercício. Além de (segundo depoimento de pessoas que fizeram a prova) permitir correções durante os exercícios. 


Para mim, isso faz sentido: se queremos incentivar as pessoas a treinarem seus cães - não só pro certificado - mas para a vida, não tem porque proibir o uso de recompensas e correções, afinal, não esperamos e queremos que as pessoas incorporem feedback sobre o comportamento na rotina de seus cães? Não vejo como uma correção leve na guia para redirecionar o cão, ou uma recompensa pelo comportamento pedido possa mostrar qualquer coisa que não seja responsabilidade e comprometimento da pessoa com manter o comportamento do cão. Até porque, todas as provas que certificam estão de uma maneira ou outra tentando com seus itens de teste reproduzir ou simular situações reais do dia a dia, e na minha opinião, os donos deveriam sim corrigir e premiar seus cães como parte natural de suas rotinas.


O CGC e o SPOT se comprometem mais com o incentivo a métodos de adestramento puxados para base em reforço positivo, afinal os maiores órgãos nacionais americanos e internacionais que certificam profissionais comportamentalistas cobram usos de métodos minimamente aversivos de adestradores por eles certificados, como IAABC e CCPDT. Ao mesmo tempo, não permitem premiações que não o toque ou incentivo vocal durante suas provas, o que honestamente me parece um pouco contraditório. 


Pelo menos para mim, como adestradora, não é difícil dizer se o cão está sendo recompensado depois de oferecer um comportamento que ele já sabe fazer, ou se ele está sendo induzido, (às vezes até coagido) a demonstrar um comportamento por conta da presença de uma recompensa… E acredito que todo avaliador deveria ter essa mesma habilidade, e se for esse o caso, não tem porque não permitir qualquer tipo de recompensa. Até porque, já me repetindo um pouco, a ideia desses certificados é incentivar que donos de cães tornem o treino com seus cães parte de suas rotinas, certo? Acredito que se esse é o objetivo, incentivar pessoas a ter o costume de ter reforçar os comportamentos que querem de seus cães é perfeitamente cabível, mesmo durante uma prova.


Saindo aqui em uma outra pequena tangente - quando falamos de donos comuns que querem ensinar comportamentos desejáveis para seus pets, não sei vocês mas o que eu vejo pra caramba, é pessoas que muitas vezes recompensam acidentalmente o que não querem com atenção, e acabam por ignorar completamente seus cães quando estão fazendo exatamente aquilo que gostariam que eles fizessem. Permitir uso de recompensas durante a prova, acredito eu, ajudaria a cimentar na cabeça de muita gente essa mudança de perspectiva: tentar enxergar comportamentos bons que podem ser recompensados, ao invés de prestar mais atenção aos comportamentos disruptivos, irritantes, e indesejáveis. 


Com clientes individuais, vejo que isso é uma coisa muito difícil para as pessoas: reparar e reagir a comportamentos desejáveis ao invés dos indesejáveis… (ou como costumam nos relatar “bom” vs “mau” comportamentos) e de fato isso é algo que requer um certo treino de hábito por parte do humano: é muito mais natural para nós virar e dar uma bronca no cão que está latindo sem parar, do que levantar da sua mesa pra fazer um carinho em um cão que gosta de toque, quando ele está deitado na caminha dele quieto.


Enfim, é o que é, mas fica a minha opinião. Eu entendo que a proposta de não permitir correções ou recompensas e de “avaliar cães já treinados” e não “em treinamento”. Mas existe uma grande diferença entre um cão treinado que ainda recebe feedback pelo seu comportamento em forma de recompensas e correções e um cão que está sendo induzido por comida ou pela guia a apresentar o comportamento que o exercício pede… Mas enfim, seguimos.


Sobre uso de correções, pelo mesmo motivo de quererem incentivar métodos de treino baseados principalmente em reforço positivo, o CGC permite apenas “correções leves” que no fim, fica a critério de cada avaliador, pois no manual de avaliacao nao consta uma descrição objetiva do que seria considerado uma correção “leve”. O SPOT não permite nenhum tipo de correção com a guia. O TCS não menciona correções no regulamento, mas segundo depoimentos de pessoas que participaram da prova no início de 2024, não houve penalidade ou dispensa pelo uso de correções.


Ao contrário do uso de recompensas, que acredito ser benéfico permitir seu uso, acho que no caso de correções tendo a concordar mais com a decisão de regular o uso: afinal, recompensa costuma ser acesso a carinho, festinha, brinquedo ou comida, e é muito fácil visualizar o que é recompensa, mas para “correção” existe um espectro muito mais variado do que se encaixaria nessa palavra. César Millan chama de correção um cutucão na costela do cachorro, enquanto outro adestrador menos compulsivo pode chamar de correção um movimento dos dedos que seguram a guia comparável a força usada para apertar um gatilho de controle de videogame… no caso, se “correções” forem permitidas, acredito que seja necessário a inclusão de descrições objetivas muito mais detalhadas para que não haja brecha para chamar de correção suspender a guia a ponto do cão tirar as patas do chão (como fazem alguns “adestradores” por aí) - Quanto menos possibilidade de interpretação subjetiva melhor. 


No quesito de equipamentos, nenhuma prova permite o uso de e-collar, o que faz sentido, já que a ideia é que toda (ou quase toda) a prova seja feita na guia, e existem (pelo menos para o CGC e SPOT) regras sobre uso de correções, que com a e-collar podem passar despercebidas pelo avaliador. Acredito que exceções para cães surdos ou pessoas com paralisias nos braços ou condições semelhantes onde a utilização desse equipamento seja um substituto para uma comunicação de guia por exemplo deveriam ser permitidas caso a caso. Mas para as especificações das provas, que não exigem nem permitem que o cão esteja totalmente solto, faz sentido pra mim que não seja permitido. Até porque, se a ideia é preparar cães para convívio social, é muito mais provável que a pessoa vá frequentar lugares onde o uso de guia é obrigatório, então não tem porque dar qualquer tipo de incentivo para uso de uma ferramenta que possibilita e incentiva o treino de cães sem guia.


O TCS é a prova que permite a maior variedade de equipamentos dentre os 3. Falando com um membro do perfil @trainingdayk9 fui informada que é-collar e a única ferramenta de condução que não é aceita na prova, todas as outras, inclusive cabresto, e peitorais modelos “anti-puxão” são permitidas.


Sobre o uso de equipamentos, acho prudente permitir a todos. Afinal, se a ideia dessas provas é avaliar como o dono do cão consegue controlar e direcionar seu cão em situações reais (ou o mais próximo possível disso), faz sentido que ele possa usar aquilo que usa no dia a dia com seu cão, ao invés de possivelmente precisar treinar o uso de um conjunto diferente de equipamentos do que é o usual para aquele animal. 


Concordo com a exclusão do uso de peitoral do modelo “anti-puxão” caso sejam o modelo que tem uma parte da peitoral atravessada nos ombros do cão, por uma questão de mobilidade. Porém, pessoalmente não vejo nada errado em usar uma peitoral em Y com anel de conexão frontal (no peito) por exemplo. Se fosse eu escrevendo o regulamento, eu focaria em verificar se o equipamento - seja ele qual for - está bem ajustado para não causar desconforto ao cão: isso incluiria peitorais que restringem movimento mecânico, peitorais H que raspam nas axilas do cão, coleiras com folga que permitiriam ao cão escapar, peitorais americanas sem back up, que também facilitam fuga, prong do tamanho errado, cabresto que pega nos olhos do cão ou não permite que ele arfe… enfim, dar ênfase na importância de ter equipamento do tamanho certo, e bem ajustado, ao invés de incentivar ou proibir um ou outro.


Acredito que mesmo querendo incentivar o uso de certos equipamentos, e métodos de treino, é mais produtivo para a educação e segurança da população; e mais eficiente no incentivo de posse responsável, que se cobre uso correto de qualquer equipamento, especialmente se for o que a pessoa for usar de fato: não adianta de nada proibir uso de prong se a pessoa fizer o teste de colar de elos, mas aí depois do teste, sair na rua com aquela prong de 4mm sem placa central usada como um colar em um cão de porte médio não é mesmo? Ou se a pessoa treina o cão para passar na prova usando coleira martingale, mas sai com ele na rua de peitoral americana (ou em 8) mal ajustada, possibilitando sua fuga, certo?


Mesmo o uso de guias, acredito que deveria ser liberado o uso de guia retratil e guia com amortecedor, afinal, é critério de todas as 3 provas que o cão acompanhe o dono andando ao lado, com a guia frouxa, e é possível fazer isso com esses dois modelos: basta travar  guia retrátil em um comprimento fixo, e que o cão ande perto da pessoa para que não haja tensão na guia com amortecimento: ela ter essa característica de nada impede que o cão seja treinado para não puxar. O mesmo vale para guia unificada ao meu ver: se não existe tensão na guia, não tem porque argumentar que o cão está demonstrando o comportamento esperado por conta da guia.


Dito isso, acredito que o TCS dentre as 3 provas tem a melhor política em relação a uso de equipamentos, apesar de ficar aquela leve decepção de não constar em lugar algum nenhum tipo de diretriz no que diz respeito a checagem da segurança e ajuste correto desses equipamentos por parte do avaliador (em nenhum dos 3 certificados).


Bom, até agora, falei um monte sobre regras e regulamentos, mas vamos agora aos itens de teste propriamente ditos! Apesar de existirem alguns itens que são exclusivos de um ou outro certificado, de maneira geral, é possível fazer uma comparação item a item.


Para facilitar a comparação, fiz esta tabela agrupando os itens de teste por “assunto”, o que faz com que na tabela eles estejam fora de ordem em relação aos regulamentos, mas acredito que para fins de comparação fica melhor ordenar assim. Vamos dar uma olhada nas habilidades testadas pelas 3 provas primeiro (sendo que algumas tem leves diferenças), e depois falar um pouco sobre itens que são exclusivos.


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Habilidade 1: Reação a uma pessoa. CGC: item 1, SPOT estação 7, TCS item 1


Nas 3 provas o exercício para testar a reação do cão a aproximação de uma pessoa desconhecida é muito similar: o avaliador anda em direção ao dono e seu cão, e cumprimenta a pessoa. O CGC não especifica nenhuma posição para o cão estar, mas enfatiza que durante toda a interação o cão deve manter as 4 patas no chão. Já o SPOT pede que o cão esteja posicionado ao lado da pessoa, e o TCS especifica que o avaliador deve esperar o dono dar um comando se posição (pode ser sentado, deitado ou parado em pé [“quieto”] pelo que entendi do regulamento).


Tanto o CGC quanto o TCS desclassificam cães que apresentem comportamentos inseguros, ou agressivos, e o SPOT é o único que considera que o cão passou no exercício se o cão pular no avaliador.


Para essa habilidade, ao meu ver os critérios do SPOT são muito baixos, enquanto o CGC e o TCS fazem um trabalho muito melhor em descrever o comportamento esperado de um cão a ser aprovado no exercício.


Habilidade 2: Carinho. CGC: item 2, SPOT estação 7, TCS item 2


Para o SPOT essa habilidade está incluída na mesma estação onde o cão é abordado, no CGC e TCS é considerado um exercício separado da aproximação. O CGC e o TCS, ambos mencionam dispensa no caso do cão evitar contato, ou ser agressivo, e novamente o SPOT deixa a desejar em seus critérios, permitindo que cães que pulam no avaliador, ou precisem ser fisicamente restringidos pela coleira sejam aprovados.


Para essa habilidade, o CGC é o que mais descreve o que é esperado do cão, e acredito ser o mais criterioso para que o cão seja aprovado neste quesito.


Habilidade 3: Exame de toque. CGC item 3, SPOT estação 9, TCS item 2


O exame de toque está presente nas 3 provas, em diferentes graus: o CGC busca simular o exame que um árbitro de conformação faria em um cão de exposição, incluindo olhar dentro das orelhas, pegar na mão as patas dianteiras, levantar os lábios para checar os dentes. O SPOT também checa os dentes e orelhas, mas inclui no manuseio das patas, a separação manual de cada dedo. O SPOT não menciona o peso ou disposição do cão, mas o CGC e o TCS mencionam que o cão deve estar em peso saudável e com disposição alerta. O TCS menciona a checagem apenas das orelhas. 


Pessoalmente acredito que se o cão não tem uma condição médica que cause sobrepeso, cães obesos podem sim ser um indicativo de falta de cuidados: seja por alimentação inadequada, ou rotina de exercícios falha. Acho uma coisa importante de se observar para avaliar o estado de saúde e o comprometimento com o cuidado do pet, e é uma pena o SPOT não incluir essa observação como parte da prova. O TCS ganha pontos comigo aqui por mencionar problemas de pele aparentes: se o cão está sob tratamento para alergias sazonais, problema genético ou sarna por exemplo, isso não indica falta de cuidado, mas irritação por lambedura excessiva, pulgas ou falta de higiene devem ser pontos a serem observados.


Acho importante que o cão aceite manipulação das patas e dedos, como propõe o SPOT, afinal esse é um grande indicativo de como o cão tolera um exame veterinário, e manipulação rotineira em situações de banho e tosa. Me surpreende que nenhuma prova mencione o comprimento das unhas do cão, algo que denuncia o conforto do animal em permitir um procedimento necessário à sua saúde em nível estrutural.


Habilidade 4: Escovação. CGC item 3, TCS item 2


O SPOT não inclui escovação da pelagem do cão, mas o CGC e o TCS sim, que acho ótimo, afinal especialmente para cães misturados de pelo longo, a condição da pelagem é um grande indicativo do nível de cuidado com o animal.


Habilidade 5: Passeio com a guia frouxa. CGC item 4, SPOT estação 1, TCS item 3


Para os 3 certificados o cão deve demonstrar a capacidade de andar com a guia frouxa, acompanhando seu dono andando em linha reta, fazendo curvas a direita e a esquerda, dando uma meia volta, parando e voltando a caminhar. No CGC, o avaliador irá instruir o dono e o cão a fazer as mudanças de direção na hora, e para cada cão o avaliador pode escolher uma sequência diferente. No SPOT e no TCS, existe um caminho pré estabelecido, que inclui todas as curvas e paradas no percurso. 


Para o CGC e TCS o cão deve se manter atento às mudanças de direção, e andar relativamente perto em posição paralela com o dono durante o percurso. O SPOT novamente deixa a desejar nos critérios que permitem aprovação de uma cão: constando que para uma nota “bom” o cão pode estar “obviamente distraído” e o dono “tem dificuldade em manter a atenção do cão”... o que para mim, não é o mesmo que tolerar distrações momentâneas de um cão que prontamente retorna o foco ao dono quando chamado a atenção.


Na minha opinião, um caminho surpresa, e potencialmente diferente para cada cão, é uma adição fácil de fazer ao exercício que potencialmente pode dar ao avaliador um melhor exemplo do comportamento do cão para ser avaliado: quando o caminho é pré-determinado, existe o risco das pessoas avaliadas treinarem esse percurso ensaiado e se saírem muito bem, mas quando em uma situação onde o cão precise seguir o dono em um padrão desconhecido de curvas e meias-volta, ele não demonstre a mesma atenção e resposta. Mas o fato de que todos têm mudanças de direção e critérios que mencionam a atenção do cão já é ótimo para avaliar o quanto controle o dono tem sobre o cão e para demonstrar a condução.


Habilidade 6: Multidão. CGC item 5, TCS item 3


O SPOT não tem nenhum exercício que envolve uma caminhada em meio a várias pessoas. O CGC e o TCS sim. No CGC esse exercício é separado do último, porque neste exercício, é pedido dos voluntários ou assistentes de teste que eles intencionalmente passem na frente do dono e cão, andem de encontro a eles, e até esbarrar no rabo do cão depois dele passar. A ideia no CGC é que o cão possa navegar por entre pessoas conseguindo seguir o direcionamento de seu dono para desviar e ignorar as pessoas, mesmo que haja contato físico acidental entre pessoas desconhecidas e o animal.


No TCS, andar em meio a multidão é uma extensão do exercício de andar com a guia frouxa: após completar o caminho pré estabelecido acompanhando seu condutor, a dupla deve se dirigir a um grupo de pessoas paradas, e fazer um caminho em “8” em volta delas, se afastar e andar entre elas enquanto se movimentam. 


Acho os dois exercícios muito bons para ver como o cão lida com a distração de conhecidos em movimento ao ser redor, com o CGC sendo um pouco mais desafiador por incluir interferência na caminhada. É um tanto decepcionante que o SPOT não teste o cão em uma situação como essa sendo que em espaços públicos é quase certo de que cães pet terão que lidar com pessoas ao seu redor.


Habilidade 7: Sentar e deitar. CGC item 6, SPOT estação 8, TCS item 4


O CGC pede que o dono diga ao cão que sente, e em seguida deite em preparação para o fica. No SPOT os dois comandos devem ser demonstrados em qualquer ordem, e a estação inteira consiste em comprovar entendimento destes dois comandos de obediência básica. O TCS também usa o “senta/deita” (que escrito desta maneira no regulamento não deixa claro se é necessário demonstração dos dois comandos ou se fica a cargo do dono ou árbitro mostrar um ou outro) em preparação para outro exercício.


Acredito que seja importante, para um certificado que se propõe testar as habilidades de cães pets de poderem conviver em público, testar os dois comandos porque os dois são úteis em espaços compartilhados pet friendly: um cão deitado embaixo da mesa em um restaurante é muito mais agradável do que um sentado com a cabeça na altura dos pratos por exemplo. Não só isso, mas demonstrar que o cão sabe pelo menos dois comandos básicos dá uma melhor ideia de dedicação ao treino desse pet.


Habilidades 8 e 9: Ficar e vir quando chamado. CGC: Itens 6 e 7, SPOT estação 10, TCS item 4


O CGC usa o item que vem antes deste para posicionar o cão para o esperar no “fica” e atender ao comando “vem” dado de 3m de distância do cão. O SPOT trata esta estação completamente separada do senta e deita, que ele considera um exercício puramente de obediência. Para o “fica” o cachorro pode estar em qualquer posição, inclusive em pé, desde que se mantenha estático aguardando o comando “vem”, dado de 3m de distância. 


O TCS faz as demonstrações do senta/deita junto com o “fica” e o “vem”: A certificação brasileira é a única prova que faz o cão esperar o retorno do dono em posição estática, antes de pedir que o cão espere para responder a um chamado de ir até o dono - que é um exercício separado. Fiquei tentada a separar esse exercício do fica, e classificar como uma habilidade de “espera” mas coloquei aqui com os outros porque é como o certificado classifica. Consta no regulamento que a guia longa a ser usada é de 10m, mas não especifica se o dono deve andar seu comprimento inteiro ou não - mas acredito que sim. 


Acredito que um “fica” onde o cão espera até que um novo comando seja dado, e um “espera” onde o cão se mantém no lugar até que o dono se junte a ele são duas habilidades separadas (aqui combinadas para facilitar essa comparação já demasiadamente longa) e as duas muito importantes para qualquer pet que seu dono tenha intenção de trazer ao convívio público. 


Pedir pro cão manter uma posição até ser liberado (seja pelo retorno do dono, ou um novo comando) é uma habilidade muito importante para qualquer cão pet. Existem muitas situações no dia a dia que o cachorro ter a capacidade de esperar pode ser crucial tanto para segurança quanto para boa convivência com o público em geral. Quando a pessoa vai a um restaurante pet friendly com seu cão e o garçom se aproxima da mesa para trazer a comida, um fica em posição deitado faz com que o trabalho desse garçom seja mais fácil, quando um cachorro acompanha seu dono no shopping e consegue esperar para entrar no elevador, ou mesmo para que a pessoa conduzindo o cão possa parar no meio da rua e amarrar um sapato: o “fica” é definitivamente uma das habilidades mais versáteis - as vezes das maneiras mais sutis.


O “vem” - ou, a habilidade de vir quando chamado - é também muito importante, mas vou ser honesta, não acho o mais importante: em quase toda via pública no Brasil, e em quase todas as vias urbanas no mundo existem leis que requerem que os cães estejam de alguma maneira ancorados a seus donos: leis que exigem o uso da guia. E se as pessoas forem responsáveis com suas escolhas de equipamento, se prestarem a atenção devida ao ajuste, e trabalharem engajamento básico com seus pets, o “vem” só seria necessário em situações de emergência. Além disso, se seu cão tem bom engajamento com você, não tem porque ele “fugir” ou sair correndo pra longe, só porque a guia não está na sua mão. - Mas podemos discutir a percebida ordem de importância de comandos uma outra hora -


Habilidade 10: Reação a outro cão. CGC item 8, SPOT estação 4, 5 e 6, TCS item 5


Tanto no CGC quanto no TCS, a reação a outro cão é avaliada seguindo uma “coreografia” similar, onde duas equipes compostas por um cão e uma pessoa andam em direção uma à outra, os humanos das duplas se cumprimentam, e seguem caminho passando pela outra equipe. Nas duas provas, um leve interesse é aceitável vindo dos cães avaliados, e não passam no exercício caso puxem em direção ao outro cão, e apresentem agressividade ou reatividade em relação ao outro animal, com o CGC mencionando também que o cão não deve tentar laber, ou pular na pessoa que conduz o outro cão. 


No SPOT essa habilidade é testada em três estações diferentes: na primeira há uma coreografia similar ao CGC e TCS, porém feita duas vezes. A primeira vez, os cães estão do “lado de fora” (ou seja, cachorro humano, humano cachorro) e na segunda passam pelo outro cão pelo “lado de dentro” (humano cachorro, cachorro humano). A segunda vez que reação a um cão é avaliada no SPOT, é na estação seguinte, onde o cão está confinado em uma caixa de transporte ou cercado (escolha do dono) e um cão passa na frente do portão, uma vez “do lado de fora” (portão, humano cachorro) e a segunda passagem “do lado de dentro” (portão, cachorro humano). E a última instância é na estação 6 onde o dono deve sentar em uma cadeira e o cão deve esperar ao lado, enquanto uma dupla assistente (uma pessoa e um cão) caminha até a cadeira e fala com o dono, que permanece sentado, depois vai embora, e o cão deve se manter ao lado da cadeira e responder apropriadamente ao cão se aproximando e depois se afastando.


Acho o exercício do CGC e TCS muito bons, e os critérios são justos. O SPOT tem maior nível de dificuldade dessa habilidade por testá-la 3 vezes, fazendo os cães andarem lado a lado sem nada entre eles, avaliando o comportamento do animal quando outro se aproxima e se afasta enquanto ele não está em movimento, e gosto que eles tenham incluído um exercício que testa reatividade de barreira nos cães avaliados. Novamente, porém, não acho os critérios do SPOT exigentes o bastante para garantir que os cães que passam sejam realmente comprovadamente educados.


Habilidade 11: uma situação inusitada (surpresa). CGC item 9, TCS item 6


No CGC, com o cão parado, existem inúmeras sugestões no manual do avaliador sobre distrações a serem apresentadas: desde derrubar cadeiras, passar perto do cão com carrinhos, bicicletas, até assistentes ou voluntários fazendo barulhos ou movimentos surpreendentes. O TCS prevê distrações naturais típicas se para esse item for escolhida a opção de passeio em via pública, e distração sonora se for feito dentro do local de prova: especificando a distância de 3 a 6 metros do cão, enquanto no CGC as distrações podem chegar bem perto. 


Nas duas provas o cão pode reagir com surpresa, mas deve se recuperar rapidamente: sem demonstrar fuga, pânico, agressão ou medo, o que acho critérios muito bons, afinal, cães são animais, e esperar que eles não reajam a coisas que acontecem à sua volta: mas ter um cão resiliente que pode rapidamente voltar a viver sua vida normalmente depois de um acontecimento surpreendente é muito importante especialmente para quem tem cão em um ambiente urbano, que é cheio de estímulos alienígenas para eles como animais, e saber lidar bem com eles indica que esse cão terá melhor saúde mental do que um que seja aparentemente incapaz de voltar ao normal depois de uma reação de susto.


O SPOT não contém um teste para reação do animal a algo que possa causar surpresa ou susto.


Habilidade 12: Separação do dono. CGC item 10, TCS item 7


O SPOT é a única prova dentre as três que não avalia o cão na ausência de seu dono. Para essa avaliação no CGC, o dono deve dar a guia do cão para o avaliador e sair de vista por pelo menos 3 minutos. No TCS a avaliação do comportamento do cão na ausência do dono pode ser feita igual ao exercício do CGC, onde o avaliador segura a guia, ou o dono pode optar por deixar seu cão na caixa de transporte durante o período de separação.


Habilidade 13: Uso de uma caixa de transporte. SPOT estação 4, TCS item 7


No TCS, para a demonstração da habilidade do cão de ficar bem em uma breve separação de seu dono enquanto ele está fora de vista, pode ser feita com a caixa de transporte, porém não é citado nos critérios do regulamento se o avaliador deve levar em conta como o cão entra e sai da caixa: apenas seu comportamento dentro da caixa na ausência do dono. Já no SPOT, este exercício é todo sobre como o cão se comporta ao ter sua guia retirada para ser colocado em um local confinado (o dono nesta estação pode optar por usar um cercado, ao invés da caixa de transporte), como se comporta enquanto uma distração passa na frente, e como ele permite a recolocação da guia e sai do local de confinamento. Infelizmente, mais uma vez, apesar de gostar do que esta estação se propõe a avaliar, sinto que os critérios que permitem um cão ser aprovado são medíocres e deveriam ser mais exigentes.


Habilidade 14: Acompanhar o dono sem guia. SPOT estação 6


A única prova que testa se o cão é capaz de andar ao lado do dono sem que eles estejam segurando a guia, é o SPOT. Na segunda parte da estação 6, o dono deve pegar a cadeira onde sentou para a parte 1, e andar com ela por alguns metros, com o cão andando ao seu lado, com a guia arrastando no chão. A avaliação dessa habilidade porém é opcional, já que o dono não está segurando a guia, a parte 2 desse exercício não precisa ser feita caso a pessoa não se sinta segura, ou o avaliador julgue que não é seguro.


Habilidade 15: “Deixa”. SPOT estação 2


O SPOT é o único certificado que avalia se o cão obedece ao comando “deixa” - para não pegar uma coisa do chão. O exercício na prova conta com brinquedos colocados no chão, e o cão deve passar por eles andando em “8” e se ele se interessar nas distrações, o dono deve idealmente usar um comando de voz para que o cão não interaja com os objetos. Novamente, acredito que os critérios que permitem o cão passar nesta avaliação são inteiramente inaceitáveis. Um cão pode receber nota “bom” causando tensão na guia, pegando os objetos na boca e até se recusando a andar para investigar os brinquedos.


Se traduzirmos esse exercício de simulação para uma situação equivalente na vida real, como lixo ou comida descartada no chão por exemplo, não acho que o cachorro puxar até a distração e chegar a colocar - seja o que for - na boca seja seguro para o cão de maneira alguma, e para mim, aprovar um cão que apresenta um comportamento que pode ser um risco a sua própria saúde é inadmissível.


Habilidade 16: Passagem por uma porta. SPOT estação 3


Essa é uma habilidade que também só é testada pelo SPOT. Saber esperar para passar por uma porta pode ser muito importante para a segurança do cão e do público: quantos vídeos de cães presos pra dentro, ou pra fora do elevador você já não viu por aí? Tirando os possíveis encontros cara a cara que podem ocorrer se um cachorro sair/entrar por uma porta sem saber o que tem do outro lado. O exercício aqui é feito com a guia, mas como para mim é o caso em todos os critérios de avaliação do SPOT, acho que as notas que permitem um cão passar são tão pouco exigentes que se eu não souber exatamente a “pontuação” de cada estação, eu não confiaria em um cão certificado como SPOT como sendo um cão comprovadamente educado.



Conclusões


Ufa! Foi longo, destrinchar todas as habilidades avaliadas em todos os 3 testes, eu sei. Se você leu até aqui, parabéns pela paciência, e vamos então finalmente às conclusões finais!


Ao meu ver nenhum desses certificados chega a ser o que eu consideraria o ideal: o SPOT testa algumas habilidades que considero muito importantes, que o CGC e o TCS não avaliam, porém todo o SPOT para mim tem critérios baixos demais. Gosto muito das exigências pré requisito do TCS que incluem número do microchip e apresentação da carteira de vacinação do cão, e acredito que seja o mais “realista” no quesito de uso de recompensas e equipamentos quando comparamos o ambiente de avaliação com a prova, mas ao mesmo tempo ele não é um teste tão acessível quanto os outros dois. O CGC ter o termo de responsabilidade e oferecer uma recompensa tangível na forma da fitinha são pra mim uma vantagem que ele tem sobre as outras provas: todas se apresentam como uma ferramenta que incentiva posse responsável e que o dono comum de pet tenha vontade de treinar seu cão, mas essas duas características do CGC na minha visão acabam cumprindo melhor esse papel.


No geral, elas são bem similares, com exercícios bem equivalentes no que diz respeito à habilidade que está sendo avaliada em cada um, e vejo valor em todos. Mas meu preferido continua sendo o CGC. Acredito que ele oferece exercícios com maior grau de dificuldade, que ao mesmo tempo são os mais similares às situações reais que buscam simular. Além disso, o fato dele ser mais acessível à população que pretende servir, e por ele estar mais enraizado como uma boa régua para comportamento pet. Tenho certeza que com o tempo, o TCS chegará ao mesmo status, mas até lá, o CGC se mantém no topo da minha lista. O SPOT nem compete como meu preferido, infelizmente por conta dos critérios de avaliação, que como repeti inúmeras vezes já, acho muito baixos.


O CGC como programa, e não só como certificado, também oferece outros níveis de prova, e o UKC e a CBKC não tem nada em equivalência no momento: o CGC Community, e o CGC Urban. Ter esses outros níveis de certificação se alinha muito com o objetivo de incentivo ao treino como uma atividade que faz parte da rotina do dono e cão, não só algo para se tentar uma vez “por esporte”. O incentivo a sempre buscar evoluir para o próximo nível de obediência e habilidades de condução acho que é o que eu mais gosto no programa Canine Good Citizen. Espero que no futuro a CBKC e o UKC vejam valor nisso, e ofereçam mais níveis de certificação para cães pet!


Como esse artigo de muitas partes já está beeeeem longo, vou deixar pra falar do CGCa e CGCu uma outra hora, até porque nosso foco aqui é a comparação de certificados básicos equivalentes entre os 3 países.


Depois de ver as comparações cruas, as mais cheias de opinião, e essa breve filosofada meia boca, o que você acha dos certificados? Tem um preferido? Porque esse?


Parte 6 < Você está aqui


 
 
 

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© 2021 por Juliana Vianna e Silva AKA Ripley Riot  - Site atualizado em 07 de Julho 2024

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