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Conheça o Equipamento 05: Prong Collar ou Colar de Garras

  • Foto do escritor: Haroldo Fala
    Haroldo Fala
  • 21 de set. de 2021
  • 17 min de leitura

Atualizado: 16 de nov. de 2022


O Que é?

A Prong Collar, ou como é chamada no Brasil, Coleira de Garras, é de modo simplificado, uma coleira de obediência (o que significa que ela é primariamente usada para auxílio de treinos de adestramento) que é feita com elos de garras de metal, com um sistema de corrente martingale.


Boa x Ruim

Mas nem todo produto vendido com o nome prong ou coleira de garras é um bom equipamento. Existem diferenças fundamentais entre produtos de boa qualidade, que podem ajudar você a se comunicar com seu cachorro de maneira segura e eficaz, e produtos de má qualidade, que podem ser ineficientes ,ou pior, perigosos.

Uma Prong de qualidade tem as seguintes características:

- Placa de metal para proteger a traquéia;

- Sistema de corrente martingale;

- Anel para gancho da guia e anel morto;

- Placas de metal laterais para segurança do sistema martingale;

- Elos de garra com pontas arredondadas subindo da placa de proteção em direção ao anel morto colocados em direções opostas.


A marca alemã Herm Sprenger Dogsports patenteou essa ferramenta porque todos esses elementos são necessários para que a Prong collar funcione da maneira correta, e segura.



Coleiras de qualidade ruim, que são vendidas com o nome prong ou coleira de garras simplesmente não funcionam da maneira correta e não são seguras:

- Os elos de garra tem pontas a corte seco, e podem machucar o pescoço do animal;

- Todos os elos estão ligados na mesma direção em volta do pescoço;

- Elas não tem placa de proteção para a traquéia;

- A ligação com o sistema martingale é feita diretamente de um dos elos, sem placas de metal que assegurem a integridade do encaixe. - Além disso elas podem vir com pontas de borracha, que podem causar irratações, queda de pelos e alergia, além de feridas por fricção.

Antes de entrar mais em como ela funciona- e com isso porque o design dela é desse jeito- Vamos falar sobre alguns mitos.


Mito: A prong collar foi feita para enforcar e furar o pescoço do cachorro, fazendo ele obedecer por medo da dor.

Verdade: A prong collar distribui a pressão igualmente por todo o pescoço, enquanto o sistema martingale evita o enforcamento, ela protege a traquéia e não causa dano na pele por conta da espessura do couro do cão, pelas pontas arredondadas, e pela proteção dos pelos. Ela foi projetada para comunicar pressões leves, para que o cachorro responda aos comandos que já sabe em situações de alta distração ou estresse.


Veja abaixo um vídeo [temporariamente indisponível por erro no arquivo) onde eu coloco a coleira em mim mesma, e puxo a guia com variadas intensidades. Você vai notar que apesar da pressão e dos trancos, não há lesão na pele além das pequenas marcas onde as garras ficam. Isso acontece porque eu, diferente de um cachorro, não tenho a camada de pelos, e a pele do pescoço em um ser humano é fina e delicada em comparação com o couro de um animal. Esse tipo de efeito poderia acontecer apenas em cães pelados, como é o caso do Xoloitzcuintle ou o Cão de Crista Chinesa.



Mito: A coleira de garras é um equipamento cruel

Verdade: A coleira de garras é mais segura e gentil do que uma coleira lisa ou enforcador usados na mesma situação.


Mito: A prong é um instrumento de tortura medieval

Verdade: A patente foi criada pela Herm Sprenger Dogsports por volta de 1800 depois de décadas de pesquisa e teste com cães de trabalho (militares, policiais, de resgate e de serviço)


Mito: Quanto maior o cachorro maior o tamanho da prong e das garras

Verdade: O tamanho da coleira e das garras é determinado pelo tipo de pelagem do cachorro.


Mito: Se usa como uma coleira lisa, na base do pescoço

Verdade: Precisa ser colocada na base do crânio para que a placa protetora da traquéia seja usada efetivamente.


Mito: O objetivo da Prong é simular a mordida de outro cachorro para que o cão que está usando mostre submissão à pessoa com a guia

Verdade: O design de garras serve para distribuir a força igualmente ao redor do pescoço, e não tem nada a ver com simulação de mordida ou submissão. A ferramenta foi desenvolvida com o objetivo mecânico de proteger a traquéia do animal, e comunicar pressão da maneira mais gentil possível.


Esse próximo mito merece um parágrafo dedicado apenas a ele, pois é um dos argumentos que mais vejo aparecer como “xeque mate” em discussões na internet, e ele precisa ser endereçado.


“A Foto”

Sempre que surge o assunto da prong collar, surge essa mesma imagem como “prova” de que essa ferramenta é cruel e machuca o cachorro. O suposto caso aterrorizante que circula com o boato de que os ferimentos em questão foram lesões causadas pelo uso de prong collar durante adestramento tem apenas duas fotos…


E acontece que essa foto NÃO É RESULTADO DO USO DE PRONG COLLAR.


Pelas imagens podemos ver que o espaçamento e tamanho dos furos não bate com nenhum modelo de coleira de garras disponível no mercado. Esse ferimento foi mais provavelmente causado pelo uso indevido de uma coleira de espinhos que foi deixada ao contrário no pescoço dessa cachorra... Se quiser saber a história dela, clique aqui, para ler o artigo que conta o caso de abuso terrível que essa cadela passou. Mas só clique para ler se tiver estômago forte, porque o caso é bem pior do que você imagina.


Mas vamos por um momento entreter a possibilidade de que esse ferimento foi de fato, causado pelo uso de uma prong collar durante treinamento normal. Se fosse esse o caso, não teríamos milhares de fotos como essa, ao invés de apenas uma? Não seria essa coleira abominada por médicos veterinários? Afinal, se o uso "normal" causasse ferimentos desse tipo, levando em conta a quantidade de vendas do produto, não teríamos em nossas mãos uma quantidade inimaginável de cães com cicatrizes desse tipo?


Mas, existe apenas UMA foto.

Com as milhares de coleiras de garras vendidas e usadas diariamente, temos UMA foto.

Que de novo, só pra reiterar, não é de um ferimento causado por uma Prong Collar.


Depois de ler sobre o funcionamento mecânico da coleira, se esse fosse um ferimento causado por uma prong collar, lhe parece que a pessoa estava usando da maneira que ela foi projetada para funcionar? Faz algum sentido para você, que seja permitida a venda de um produto cujo OBJETIVO dele fosse causar esse tipo de lesão, durante o uso correto?


Não né? É claro, que mesmo que esse ferimento fosse de uma coleira de garras (lembrando que não é) ele teria sido causado por uma pessoa que estava praticando o uso de maneira extremamente indevida.


Os mesmos tipos de ferimentos podem ser observados no uso impróprio de coleiras lisas, peitorais, ou cabrestos de cavalo. Muito comum em animais que são acorrentados e abandonados, ou animais que fogem ou se perdem como equipamento antes de terem terminado de crescer como potros ou filhotes. Mas isso não quer dizer que esses equipamentos sejam cruéis, ruins, ou projetados especificamente para machucar os animais.



Bom. Agora que tiramos alguns dos mitos mais populares da frente, vamos partir para o lado nerd das coisas, que é sempre o meu preferido. Porque a coleira de garras tem esse design?


Para chegar lá vamos primeiro falar sobre distribuição de força.


A distribuição e força que estamos falando aqui é no sentido que a Física usa a palavra: quando você anda você aplica força contra o chão, quando você respira o ar que sai das narinas está exercendo força no ar em volta, quando você digita no celular você está aplicando força na tela.


Força aqui não significa um puxão forte, ou um elemento antagônico ao movimento do cachorro, mas como conceito de ser o agente da dinâmica responsável por alterar o estado de repouso ou movimento de um corpo ou objeto. No caso do adestramento, a força está presente em quase toda a comunicação direta com o cachorro: na guia, na coleira lisa, na coleira prong, na peitoral.


O que a prong collar faz, é distribuir a força aplicada com a guia, por toda a área do pescoço do cachorro, em oposição a por exemplo, uma coleira lisa, onde toda a força da guia se concentra do lado oposto ao encaixe do gancho, que em geral é bem em cima da traquéia do animal.


Você pode já estar familiarizado com o conceito da distribuição de força por área, sem se lembrar… A cama de pregos é um dos maiores exemplos disso: se você sentar em cima de um único prego, vai se furar, mas você pode sentar em uma cama de pregos e sair ileso, justamente por que a força que você aplica ao sentar, será distribuída igualmente entre os pregos, resultando em menos força por prego.




Quando seu cachorro, (ou você) puxa a guia com uma coleira lisa, todo o peso da interação sobressai nesse ponto do pescoço. Em uma prong, a força seria igualmente distribuída em volta do pescoço, e sem um ponto de pressão único, não existe dano. Por isso a prong tem os “dentes” ou “garras”: para garantir que a força aplicada seja mínima, e distribuída.


Um dos maiores ataques ao uso de prong collar, é sua aparência “medieval” e a presunção de que, por parecer uma “ferramenta de tortura“ ela machuca o cachorro. Mas se você pesquisar a patente deste produto, verá que o design dele foi feito exatamente com o bem estar do cachorro em mente. A prong collar pode ter uma aparência assustadora, mas seu mecanismo foi projetado para proteger o pescoço do cachorro e ser o equipamento mais gentil possível em seu auxílio de treino: com a distribuição de força, a pressão necessária para comunicar direção ao cachorro é mínima.


O veterinário quiroprata Dr.Daniel Kamen diz que: “o uso impróprio de coleiras lisas é a causa número um de subluxação cervical em cães. De todos os lugares para aplicar estresse na região cervical, especialmente as duas últimas vértebras da cervical superior, é o que causa o maior dano; é nesse ponto que o corpo se junta com o cérebro.”

tradução livre do livro “The Well Adjusted Dog” (O Cão Bem Ajustado) pg 24 por Dr. Daniel Kamen


Aqui o que ele disse sobre Enforcadores: “Este é o tipo de coleira mais usada por treinadores de cães. A ideia por trás desse equipamento é que se o cachorro puxar demais, ela começa a enforcar o cão, e por isso se ele recuar da posição ela irá afrouxar a tensão. Na realidade, o instinto de um cachorro quando sente o enforcamento de uma corrente ou corda é tentar fugir dela (puxando para longe), o que efetivamente causa o apertamento da coleira ainda mais. Um cachorro pode literalmente se enforcar a ponto de entrar em coma! Cães não treinados, e mais importante ainda, donos não treinados, podem causar danos extremos com o uso de uma colar enforcador.” (tradução livre, ênfase minha)


Veja que ele aponta a principal causa de lesão, cães que não foram condicionados (treinados) a usar um enforcador, e principalmente, donos que não sabem usar nem ensinar o cão a entender o mecanismo de afrouxamento.


Sobre Cabrestos: “Essas parecem ser o jeito ideal de treinar seu cachorro. Um cabresto se encaixa no focinho de um cão, parecido com o encaixe de uma focinheira. A guia é colocada em um anel de metal que fica no queixo do animal. A ideia por trás deste (equipamento) é guiar a cabeça do cachorro e “guiá-lo” para onde ir. Às vezes, os seres humanos podem mover a cabeça do animal rápido demais, ou forte demais por frustração ou acidente na tentativa de usar esse produto para treinar seus cães. Estes, como coleiras lisas, podem causar problemas no pescoço.” (tradução livre)


Sobre a Peitoral: “A peitoral foi criada para encaixar sobre os ombros e ajustar em volta da caixa torácica do animal. E enquanto é uma opção melhor do que uma coleira lisa ou um enforcador, essas peitorais podem causar subluxações na parte inferior do pescoço, ombros, peito e patas dianteiras. De novo, a causa principal deste tipo de lesão é frequentemente atribuída a donos frustrados que puxam e dão trancos na guia, fazendo com que o peitoral coloque um tremendo estresse nas áreas do ombro e peito.” (tradução livre)


De novo a maior causa de lesões, vem do uso impróprio por donos de cães. Quantos cachorros você vê diariamente na rua, com peitorais, e com donos que os arrastam e dão trancos e puxões para direcioná-los por aí? Imagino que isso se dê porque as pessoas veem a peitoral, e assumem que ela não pode causar danos (e às vezes o marketing desses produtos é feito com foco nesse mito) e por isso se sentem à vontade para colocar níveis de pressão extrema por meio deste equipamento.


E finalmente, aqui o que ele diz sobre a prong collar: “Esta coleira parece um instrumento de tortura medieval. Feita de metal, a coleira de garras tem vários dentes que circulam o interior de sua circunferência. Durante treinos, mesmo a menor resistência distribui a pressão igualmente em volta do pescoço efetivamente contendo o animal. Alguns treinadores falam da prong como um “direcionamento poderoso” pois mesmo o mais singelo toque pode produzir os resultados esperados. Cães que usam essa coleira em particular têm muito menos subluxações na cervical superior do que os que usam qualquer outro tipo de coleira. Em essência, essa é na verdade a melhor coleira para se usar para passear e treinar seu cachorro, acredite ou não.”


Como ajustar uma prong collar?


Para que qualquer equipamento funcione efetivamente da maneira como foi projetado, é necessário que ele sirva bem ao cachorro. Uma peitoral folgada pode atrapalhar o andar do cão, uma coleira mal fechada pode causar a perda do cachorro, um par de botas caninas apertadas demais pode causar ferimentos etc.

Assim como uma coleira lisa deve estar apertada o suficiente para que não saia pela cabeça, mas solta o bastante que se possa colocar dois dedos entre o pescoço e a coleira… a prong também tem seus parâmetros de ajuste.


E eles são os seguintes:


Referente a posição, a prong collar deve ser colocada na base do crânio… ou o mais alto possível no pescoço do cão para que a placa de proteção da traquéia seja efetiva. De modo geral, a traquéia do cachorro é mais estreita onde se conecta com a boca, e um pouco mais grossa próxima à clavícula, por isso a indicação é que se use próximo a cabeça. No entanto, é claro que existem exceções: cães de pescoço fino como o Whippet ou o Pinscher podem usar a prong no meio do pescoço e a placa protetora ainda será efetiva em proteger a traquéia.


Como existem exceções, acho sempre melhor conferir se ela está colocada corretamente seguindo os parâmetros de ajuste que podem ser observados pela corrente.


Primeiramente, a placa protetora da traquéia vai logo abaixo do queixo do cachorro, para proteger a traquéia (obviamente) Aqui vemos um cachorro com a prong collar ao contrário:


O anel morto deve ser o anel que está contra o pescoço do cachorro, e o anel de conexão, é onde a guia se engancha. Alguns modelos tem anéis diferentes, alguns tem anéis iguais, preste atenção qual é o certo para enganchar a guia, pois isso vai garantir que o mecanismo martingale funcione apropriadamente.

Note nessas fotos que uma prong tem os dois aneis redondos e a outra tem um redondo e um meia lua.


Em segundo lugar, quando a prong estiver fechada, repare na maneira que a corrente fica. Se ela ficar toda esticada, com as duas metades coladas, e quando o cachorro mexer a cabeça elas não mostrarem nenhuma folga, a prong está apertada demais. Isso pode fazer com que seu cão se sinta corrigido o tempo todo, ou que esteja sendo negativamente reforçado sem a possibilidade de “desligar” o reforço negativo. Colocar a prong apertada demais não faz bom uso da ferramenta, e pode causar aversão no animal.


Se as correntes do mecanismo martingale estiverem formando um grande U e a prong facilmente cair para a posição de uma coleira normal, ela está folgada demais. Se a prong estiver muito larga, é quase certo que a placa protetora não poderá fazer seu trabalho, uma vez que ela precisa ficar no lugar para proteger a área certa, e uma prong folgada gira em volta do pescoço do cão. Outro problema de ter a prong solta demais é que não só o cachorro pode se livrar dela quando puxar, mas não será possível aplicar reforço negativo nem punição positiva, os dois métodos de treino que a prong pode auxiliar.


muito larga as duas correntes - muito apertada as duas - ajustada corretamente formam um "U" correntes estão pressionadas


Uma prong bem ajustada tem uma leve curvatura na corrente martingale, mas não o suficiente para que ela gire em volta do pescoço. A folga que a corrente tem faz com que o mecanismo martingale funcione de maneira suave. Uma prong bem ajustada vai escorregar para baixo com o tempo de uso, isso é normal.


O que fazer se minha prong estiver muito apertada, ou muito folgada? Quase todos os modelos da prong collar Herm Sprenger vem com elos extras, para o caso de você precisar fazer o ajuste de deixá-la maior. Para isso é só conectar mais links até que a coleira sirva de forma correta. Se ela estiver muito folgada, você precisa retirar elos da coleira.

O ideal é claro, é que ela fique simétrica, com o mesmo número de elos dos dois lados, mas isso nem sempre é possível.


Nesses casos é melhor que o elo a menos fique do lado oposto em que o cachorro anda com você: se ele anda à sua esquerda, o lado com menos elos, deveria ser o direito, se ele anda à sua direita, retire mais elos do lado esquerdo. Isso porque a guia naturalmente puxa um pouquinho mais para o lado onde você está, então ter mais elos do lado oposto pode compensar por isso.


Com os ajustes feitos, existe também um detalhe: o tipo de guia que você usa faz toda a diferença. Como todo o objetivo da prong collar é o trabalho da pressão e alívio, o peso do gancho da guia precisa ser levado em consideração. Se a guia escolhida constantemente coloca peso na porção da corrente, isso significa que o cão está constantemente sentindo alguma pressão do equipamento. Se a pressão é constante, ela se torna “ruído” e perde sua qualidade comunicativa. Então escolha uma guia leve,com gancho pequeno.

Nessa foto os ganchos do meio são melhores para uma prong collar do que os das pontas



Quem usa a Prong, e como?


A prong collar é muito usada para treinar tanto cães de trabalho como cães domésticos. A via de comunicação primária dos cães é a física, enquanto para os humanos é a verbal. A prong permite que nos comuniquemos com o cão em uma linguagem mais familiar a eles.

Já que tem menor chance de causar colapso de traquéia e enforcamento do que uma guia unificada por exemplo, a prong collar é relativamente inofensiva na mão de amadores, mesmo que inexperientes: pessoas leigas tutoras de cães que compram este produto muitas vezes tendem a ser mais gentis com sua aplicaçào - justamente pela aparência assustadora do equipamento - e por conta do princípio da cama de pregos, é necessária muito menos força da parte da pessoa para atingir a mesma pressão física de uma coleira lisa.


É comum então que com menos esforço por parte da pessoa, o cão trabalhe para evitar a pressão mesmo sem treino algum. Todos os organismos naturalmente buscam evitar sensações aversivas. Mas nem sempre esse é o caso: muitos cães continuam puxando mesmo com uma prong collar, especialmente se o tutor comprou na pet shop e já logo saiu por aí com ela no pescoço do cão. O que acontece frequentemente quando esse é o caso… é que a prong se torna “barulho” e o cachorro simplesmente não sabe como reagir a pressão.. e então não o faz.


Nas mãos de uma pessoa que faz o condicionamento e treino, ela pode ser uma ferramenta poderosa para ensinar, e se comunicar com o cão, usando pressão mínima, as vezes quase imperceptível para pessoas - mas que com o treino correto, o cão entende. O condicionamento é o primeiro passo para introduzir qualquer coisa nova a um animal, e deve ser feito com tudo, desde equipamentos até acessórios, procedimentos e ambientes.


No caso da prong o condicionamento pode ser assim:

Primeiro, apresente a prong collar ao cão, colocando-a na palma de sua mão, e ofereça reforço positivo por qualquer interesse ou interação com ela. A seguir, quando o cão mostrar reações positivas a ela, desfaça um dos elos, e coloque ela em volta de seu pescoço (sem fechar) e ofereça reforço positivo. Quando o cão estiver confortável com esse passo, una os elos e deixe a coleira nele, durante uma sessão de treino, ou hora de refeição.


Enquanto isso, comece um treino que visa ensinar o cão um comando para andar ao seu lado. Pode ser segurando um petisco na mão e dizendo o comando, “vamos” por exemplo, e dando alguns passos. Ofereça reforço positivo caso ele te siga. Repita várias vezes, variando o número de passos. Até que seu cachorro ande ao seu lado quando ouvir o comando. Nessa hora, você pode introduzir o senta automático quando você parar de andar.


Depois que esse comando estiver bem estabelecido, você pode unir esse treino com a prong collar. Coloque a coleira no cachorro, e repita o exercício de andar ao lado. Depois, comece a fazer o mesmo com a guia enganchada na prong. E aos poucos transicione o comando vocal, pela pressão na guia. Se você seguir todos os passos, não será necessário mais do que a força que um dedo faz apertando o botão de um controle de video-game.


A ideia aqui, é que o comando seja a pressão da guia, ao invés do comando vocal.

Essa é a maneira como EU uso a prong collar. Sem o cão puxar, sem eu dar trancos, sem conflito entre nós: apenas uma comunicação física.


Mas existem várias outras maneiras. Ela pode ser usada como reforço negativo para manter uma posição de “heel” se for um cão de trabalho, ou como punição positiva, para chamar atenção de um cachorro que tenha problemas de fixação ou obsessão. Pode servir de um interruptor de comportamento para desviar a atenção de um cão reativo de possíveis gatilhos, pode ser usada para aumentar a agressividade de cães de proteção…. A depender do estilo de treino do adestrador, o objetivo com o treino do cão, e sua preferência. Todas essas aplicações podem ser feitas de maneira humana e segura.


Riscos

A prong collar é uma ferramenta muito versátil, que usa a linguagem que os cães mais entendem (física), e pode ser usada de maneira humana para criar uma ponte de comunicação entre cão e dono.


Mas.


Quem usa e recomenda precisa ser honesto sobre o uso: a prong collar funciona primariamente como reforço negativo, podendo facilmanete se tornar punição positiva. Tudo aquilo que é punição (ou seja, diminuiu a incidência de um comportamento) é necessariamente aversivo (apesar de nem todo aversivo ser inerentemente punitivo!). Quem usa a prong collar deve ser aberto a admitir que escolhe este equipamento para usar como potencializador de influência, e por ser aversivo o suficiente para ser refor;co negativo ou punição positiva.


O uso de prong collars por idosos e pessoas com deficiência por exemplo pode ser justificado e até necessário: pessoas que tem cães que não conseguiriam controlar fisicamente na hora de uma emergência sem auxílio de ferramentas como esta podem estar se colocando em risco, assim como colocando o cão e o público em risco também. Uma prong collar no pescoço de um cão sem tensão na guia não causa nenhuma sensação diferente de uma coleira lisa para identificação. E se ela é usada de maneira a não ser "ativada" a maior parte do tempo, não vejo porque negar a pessoas com mobilidade e força reduzida uma maneira de controlar seu cão em situações de emergência se de outra maneira não conseguiriam.


O princípio LIMA exige que o cão seja levado em conta, sempre buscando seguir a hierarquia humana: mas é parte importante da filosofia a consideração de TODOS os envolvidos. Equipamento algum é cruel ou bonzinho por si só. Mas precisamos sempre exigir honestidade e transparência sobre seu funcionamento e uso.


É desonesto e mentiroso dizer que ela não tem grande potencial de causar danos, tanto físicos quanto emocionais e mentais, ou que não é aversiva. Ela tem sim grande potencial de machucar e traumatizar, além de potencialmente piorar o problema seja ele qual for, ou ainda, criar novos problemas.


Muitas pessoas entram em uma pet shop, compram uma coleira de garras modelo imitação, colocam no pescoço do cachorro ali mesmo no caixa, e saem andando na rua, sem condicionamento, introdução ou treino prévio.


Isso só vai resultar em um cachorro confuso, que não sabe como eliminar a pressão, o que pode causar mais força na hora de puxar, tendo engatilhado a resposta de fuga. Tem gente também que sem nunca ter nenhum treino prévio de foco, desengajamento, comportamentos alternativos e uso de manejo, sai na rua dando trancos e puxões no pescoço do cão, o que pode causar problemas de reatividade por associação supersticiosa, agressão, desamparo aprendido, danos ao pescoço, cervical e coluna, além de deteriorar a relação entre o cão e seu tutor.


Infelizmente arrisco dizer, essa é a maneira que esse equipamento é mais usado. E isso tem enorme potencial de causar danos tanto físicos quanto emocioanis e psicológicos nos cães.


Ao mesmo tempo é ignorante julgar a ferramenta como culpada, quando quem causam os problemas com o uso são pessoas desqualificadas. É muito melhor espalhar informação sobre o que ela é, o que faz, como e porque, e como fazer o melhor uso dela, do que demonizar um equipamento pela maneira como se parece.


Julgar, xingar, excluir e ostracizar quem tem falta de conhecimento só vai exacerbar o problema: para diminuirmos o dano causado pelo uso indevido de qualquer equipamento, precisamos alcançar as pessoas que escolhem usar, e com paciência e empatia conversar sobre melhores práticas, uso adequado e seguro, para então iniciar conversas sobre mudança de método, outras ferramentas e técnicas. Hostilidade não vai fazer com que essas pessoas estejam abertas a ouvir e dialogar.


Talvez a solução seja maior restrição na compra, apenas deixando disponível em lojas especializadas, ou através de adestradores profissionais com experiência de uso. Ou ainda, ser vendido apensa para pessoas que puderem comprovar terem feito um curso sobre o uso, ou que façam uma prova sobre. Quam sabe? No momento, elas vendem em pet shop, e qualquer um pode comprar.


Não seria melhor então, tentar educar as pessoas para não machuquem seus cães, sempre orientando que busquem ajuda profissional para introduzir o equipamento, ao invés de hostilizar e afastar essas pessoas?


A questão é que a prong collar é um objeto inanimado, um produto, e sozinha ela não faz nada: nem ensinar, nem ferir. E a mitologia de horror em volta da ferramente apenas dissemina mais ignorância em relação ao uso e cria mais resistência para inicio de diálogo; isso não serve de nada para evitar que ela seja escolhida em primeiro lugar, ou usada de maneira inapropriada, nem para que pessoas se eduquem sobre seus riscos.


Precisamos seguir a hierarquia humana de modificação comportamental com os seres humanso também!


Se você aprendeu alguma coisa com esse post, ou se ele te fez refletir sobre a maneira como falamso sobre esse equipamento, compartilhe com uma amiga que pode aprender e refletir também, e vamos direcionar a discussão para onde ela deve ir: ética, aplicação, técnicas e filosofias de treino - não produtos - e definitivamente não para a hostilização de pessoas que não sabem o que não sabem.


 
 
 

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© 2021 por Juliana Vianna e Silva AKA Ripley Riot  - Site atualizado em 07 de Julho 2024

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